Quantcast
Channel: Sintoniza - Cinema, seriados, quadrinhos, games... » Aaron Tveit
Viewing all articles
Browse latest Browse all 10

Os Miseráveis – Review

$
0
0

review_os_miseraveis_interno

Exceto pelo espectador já acostumado com tanta cantoria, a pergunta mais frequente entre o público menos contagiado diante de um filme musical é unânime: por que cantar enquanto se pode, perfeitamente, falar? E embora existam argumentos favoráveis – a maioria ligada a um estilo que marcou época no cinema e, tempos atrás, voltou com força –, poucos títulos respondem a essa questão de maneira satisfatória.

“Chicago”, o melhor deles, esquivou-se de modo inteligente do impasse: quase todos os números cantados (e coreografados) presentes no longa eram fruto da imaginação fértil de sua protagonista – ou então não haveria sentido personagens que irrompem numa canção. Outros exemplos, como “Os Produtores” e “Hairspray”, não acertaram tanto o passo assim, mas eram espirituosos e divertidos. Entretenimento bem-feito, mostraram eles, é capaz de amenizar a incredulidade causada por um gênero segmentado.

Já “Os Miseráveis” (Les Misérables, 2012), que estreia nesta sexta-feira no país, tem uma trama que não sustenta muito enxerto. Muito menos, um cenário que possibilite alguma leveza de espírito. Na história adaptada da obra-prima do escritor Victor Hugo, o prisioneiro Jean Valjean (Hugh Jackman) quebra sua liberdade condicional e é caçado durante anos pelo impetuoso capitão Javert (Russell Crowe). Depois de se restabelecer com a ajuda de um bispo, Valjean muda de identidade para se dedicar aos mais pobres.

les-miserables-hugh-jackman-anne-hathaway-new

Pobres que não faltavam na França do século 19. Numa ocasião fatídica, Valjean promete a Fantine (Anne Hathaway), uma empregada da fábrica da qual é dono, cuidar de sua filha Cosette (ainda criança interpretada pela cativante Isabelle Allen e depois por Amanda Seyfried), o que adia a busca de Javert pelo ex-detento. O cerco ainda continua com outra porção de personagens – como os tutores picaretas de Cosette, vividos por Helena Bonham Carter e Sacha Baron Cohen, em ótimos momentos cômicos –, alguns deles envolvidos num episódio marcante da história, a Batalha de Waterloo.

Fatos históricos e superlotação de personagens não são lá de grande ajuda a um musical – a verdade é que, dentro do gênero, quanto menos complicação melhor. Mas “Os Miseráveis” possui uma carta primordial ao jogo na manga: um excelente libreto de quase 30 canções. Adaptado pouco menos de 50 vezes para a TV e o cinema, o título ganhou força notória mesmo nas seis vezes em que subiu aos palcos ao redor do globo.

Em 2010, “Les Misérables” completou 25 anos desde a primeira exibição do musical em Paris. Para celebrar a data, a versão representada em Londres (singular, por sinal) foi transformada em DVD. O que prova, Claude-Michel Schönberg fez um grande trabalho em 1980 na composição de músicas tão notáveis.

Não tão célebre, é verdade, quanto a obra de Victor Hugo. Além de poeta e dramaturgo, o francês foi um importante ativista durante um período caótico em seu país. Por meio de seus livros (que ainda incluem outro grande nome, “O Corcunda de Notre-Dame”), veiculou a miséria e a tirania que assombravam a sociedade. Não à toa, suas obras sobrevivem até hoje – ainda cheias de significados e críticas sociais cabíveis.

O filme, por sua vez, entusiasma pelo trabalho superlativo do diretor Tom Hooper (oscarizado por “O Discurso do Rei”), que prioriza as interpretações através de uma filmagem precisa dos atores e dos cenários – que reconstituem a época de forma palpável. Sem contar com a grande novidade no estilo musical: todas as canções foram gravadas ao vivo a fim de captar a espontaneidade dos momentos. O que implica o grande acerto, mas também o deslize, do longa. A desvantagem é que nem todos os envolvidos estão aptos a exercer tal função. Desde “Chicago”, nenhuma saída alternativa apareceu a não ser desconstruir todo um musical, ou encontrar atores que se virem no gogó. “Os Miseráveis” aposta (como quase todos seus antecessores) na segunda opção, e aí os altos e baixos do projeto.

Russell Crowe, por exemplo, ficou um bocado indeciso na hora de assinar o contrato. Enfrentou quatro meses de aulas para aprender a cantar. E, como visto no filme, não foram suficientes. A quem assiste, sua coragem é visível, ao contrário de seu inquestionável talento e vigor enquanto ator. Não muito longe está Amanda, que nunca se mostrou tão apática. Como obstáculo extra, seu par romântico, o inglês Eddie Redmayne, está em igual desempenho insosso.

les-miserables-amanda_

Do outro lado da balança, está a estreante Samantha Barks (que veio do espetáculo de 2010, no qual interpretava a mesma personagem, Éponine). Samantha é uma cantora exímia e, como atriz, sobressai-se em meio a grandes nomes. Já Anne Hathaway – que deve levar o Oscar de Coadjuvante deste ano – está numa forma dramática semelhante à que demonstrou em “O Casamento de Rachel”. E tem uma voz das mais agradáveis.

Quem sustenta o filme, contudo, é Hugh Jackman. Facilmente envolvido em projetos dispensáveis, o australiano é querido pelo público com razão: é carismático e muy talentoso. Aqui, defende-se com dignidade como cantor, sem deixar que o desafio de cantar e interpretar simultaneamente transpareça do lado de cá da tela. A obra possui, sim, uma quantidade considerável de acertos. Além disso, emociona e faz bom uso do material original. Mas, no fim, é certo: Jackman é o melhor motivo para assistir a “Os Miseráveis”.





Viewing all articles
Browse latest Browse all 10

Latest Images





Latest Images